Influências IV

Variadas  I

   Acredito ser muito válido citar influências além de leituras que contribuíram, por um mero detalhe que seja, para as histórias dos meus livros. Os que já estão escritos e os que estão por vir. 

    Tudo o que afeta um escritor, afetará sua escrita. Sou fã de muitas séries, desenhos, revistas em quadrinhos, filmes e, por mais que eu me recusasse a mencionar, até mesmo... novela. 

  Vou começar por esta última, para livrar os leitores da agonia de imaginar alguma novela que merecesse ser citada. Mas, fato é que me lembro de uma. 

    Por mais criança que eu fosse, já me admirava com as lutas de espadas e os dramas na vida de Jean Pierre e seu bando de ladrões. A novela se chamava "Que rei sou eu?". Não me lembrava como se chamava o reino, nem de muitos outros detalhes, além dos que chamavam minha atenção na época, até pesquisar recentemente sobre. 
Jean Pierre
    O reino se chamava Avilan. No leito de morte, o rei revela ter um filho bastardo. O feiticeiro Ravengar  decide forjar um sucessor que fosse controlável e, para isso, escolhe o mendigo Pichot, que aprende tudo o que é necessário para se tornar o rei que o feiticeiro desejava.

 Ravengar
  As coreografias de luta nesta novela não eram das piores. Os figurinos não eram dos piores. Algumas trilhas sonoras de combate não eram das piores. E alguns personagens eram interessantes, como o protagonista, Jean Pierre, que juntou um bando de ladrões para ajudá-lo a acabar com as injustiças dos nobres. O antagonista, Pichot, se tornou interessante ao mostrar como ter algum poder pode revelar a verdadeira natureza de alguém que não precisa mais da boa vontade dos outros. O feiticeiro Ravengar, por sua vez, trazia o intelecto político de estratagemas para dominar atrás dos cortinas. Me lembro também do, estrategicamente posicionado, Corcoran, o bobo da corte e um dos melhores amigos de Jean Pierre, que, curiosamente, tinha um caso com a rainha, tenho quase certeza. Outra aliada importante do herói era Aline, seu par romântico, que trabalhava no castelo para conseguir informações para as ações da resistência.
    Derci Gonçalves como a Baronesa mãe da Rainha
    A novela tinha uma puxada grande para a comédia, tanto que a mãe da Rainha foi interpretada pela Derci Gonçalves que já era velha naquela época e estava viva até recentemente, mandando todo mundo "Tomar no cu". Isso sem mencionar a guilhotina, que não funcionava. Houve também a memorável eleição para primeiro ministro e, como o povo estava indignado com os governantes, resolveram eleger um bode chamado Zé. Logo depois, na vida real, houve a primeira eleição após o fim da ditadura e, como as cédulas eram de papel e não urnas eletrônicas, grande parte da população anulou o voto escrevendo "Bode zé". A novela foi ao ar no ano de 1989. 
Chico Anysio dar o ar da graça
    Chico Anysio também participou de um capítulo como um especulador financeiro que deu um golpe no reino de Avilar, uma alusão imediata a um caso real no cenário nacional, onde um libanês, chamado Naji Najas, foi responsável pela quebra da bolsa de valores do Rio de Janeiro. O personagem do Chico se chamada Tah Nahal e ele aparece para depor sobre o caso e consegue enrolar todos os conselheiros reais e saí ileso do absurdo.
     Fora a comédia, a novela trazia críticas políticas de forma mais filosófica, por mais rasas que fossem -como poderão conferir logo mais abaixo, no diálogo de Jean Pierre com Pichot-; além de homenagear algumas obras conceituadas. A exemplo, o herói Jean Pierre passou um longo período nas masmorras usando uma máscara de ferro. Chamo de homenagem pois, duvido muito que quisessem fazer o público acreditar que tais conceitos eram originais. A originalidade da novela estava em misturar tudo isso como os criadores de Shrek fizeram com os contos-de-fada.
   
    Com certeza não me arriscaria a assistir esta novela novamente, nos dias atuais, pois, como era uma criança na época, valia-me do dom juvenil de descartar muito mais facilmente, num todo, o que não interessava e focar no que interessava, legando o descartável à lixeira de uma mente mais vazia. Seja como for, acho justo admitir que quebrei muitos gravetos... digo, floretes afiados... naquela época; lutando contra muitos oponentes, como o bando de Jean Pierre, e o próprio, regado a muita bebida e mulheres da taberna da aliada Loulou Lion, onde a resistência se encontrava.

Jean Pierre e seus leais amigos
Duelo final entre Jean-Pierre e Pichot:



 William Morais

2 comentários:

  1. Eu nunca fui fã de novelas e até tenho certo preconceito, admito. Mas já ouvi falar muito dessa novela. Era uma época em que o Brasil andava por maus bocados e a novela era uma crítica violenta ao estado do Brasil, principalmente, como você disse, à política. E esse episódio verídico do Bode Zé foi muito bom! Foi quase um Tiririca da época.
    Essa, com certeza, é uma boa influência. Achei interessante essa "revelação".

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  2. Também não sou fã de novelas :) Acho que poderiam até fazer algo que presta, se assim quisessem, mas, não parece ser esta a intenção. Muito antes pelo contrário. Muito mesmo. Valeu por comentar! :)

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